Psilogos Vol.08 Nº1/2 (Jun/Dez 2010)
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Recent Submissions
- O envelhecimento activo / depressão em pessoas idosas: que intervenção nos cuidados de saúde primários em Portugal?Publication . Maurício, IO aumento da população de idosos em Portugal, põe questões ao nível da sua qualidade de vida, e também da qualidade dos cuidados de saúde primários que lhes são prestados, no que respeita ao diagnóstico e tratamento da Depressão. Este aspecto é de crucial importância na promoção do Envelhecimento Activo, conceito que nos remete para a manutenção da motivação na vida laboral e social do idoso, mantendo a sua participação, dignidade e auto realização. É analisado o papel dos cuidados de saúde primários no diagnóstico e tratamento da Depressão.
- Psicopatologia e encefalopatia hepáticaPublication . Marques, J; Telles-Correia, D; Canhoto, MDesde Hipócrates que as alterações psiquiátricas causadas por doença hepática têm fascinado os médicos, mas só em finais do século XIX é que Marcel Nencki e Ivan Pavlov sugeriram a relação entre o aumento de concentração de amónia e a Encefalopatia Hepática (EH). O fruto da reacção entre a amónia e o glutamato (a glutamina, verdadeiro “Cavalo de Tróia da neurotoxidade da amónia”) continua sendo considerado o principal responsável pelas lesões neurológicas, confirmadas recentemente através de estudos de neuroquímica e de neuroimagiologia. A glutamina espoleta processos inflamatórios a nível do sistema nervoso central para os quais parecem também contribuir o manganésio, e os sistemas neurotransmissores gabaérgico e endocanabinóides. Actualmente consideram-se três grandes grupos etiológicos, qualitativos, de EH: tipo A associada a falência hepática aguda; tipo B associada a bypass porto-sistémico; e tipo C associada a insuficiência hepática crónica por cirrose. Quanto ao estadiamento clínico, este ainda se baseia no sistema West Haven, mas com a novidade da introdução de um Grau 0 pré-clínico (a chamada EH Mínima); à medida que agrava a EH pode ser quantificada entre o Grau 1 (com alterações subtis ao exame médico), e o Grau 4 (onde se instala o estado comatoso). Neste trabalho pretende-se fazer uma revisão bibliográfica de 30 artigos recentes, que focam os vários aspectos psicopatológicos, fisiopatológicos, etiológicos e de estadiamento nesta entidade clínica transversal à Psiquiatria e à Gastrenterologia. São descritas a nível da vigilidade e consciência: a desorientação no tempo, espaço e pessoa. Ao nível da atenção, concentração e memória há alteração dos testes neuropsicológicos logo na fase pré-clínica. O humor pode oscilar entre o eufórico e o depressivo. As alterações da personalidade podem instalar-se de forma óbvia e abrupta ou de forma subtil e insidiosa. Na percepção há alucinações visuais mas também acústico-verbais. O pensamento pode ser delirante paranóide, sistematizado ou não. O discurso poderá estar acelerado, lentificado ou imperceptível. O insight surge prejudicado na EH Mínima, nomeadamente para a capacidade de condução de veículos. Na vida instintiva, várias perturbações de sono atingem metade dos doentes com EH; o apetite surge diminuído mas foi descrito pelo menos um caso de pica; enquanto que a libido poderá parecer aumentada em contexto de uma desinibição semelhante à verificada nas lesões do lobo pré-frontal.
- Abordagem psiquiátrica do dador vivo de rimPublication . Correia, R; Malta, R; Moura, M; Coelho, RO transplante renal é considerado o tratamento de eleição para os doentes renais em estado terminal. O transplante com dador vivo tem vindo a aumentar, devido à escassez, face às necessidades, de dadores cadáver. Com base na literatura existente abordam-se as questões éticas e os principais aspectos psiquiátricos envolvidos no processo de avaliação dos dadores vivos de rim para transplante, bem como a interferência deste procedimento na qualidade de vida dos dadores, e as suas contra-indicações. Os autores descrevem os procedimentos de avaliação utilizados no Hospital S. João, bem como os dados referentes aos 32 pacientes avaliados no Serviço de Psiquiatria, desde 2004.
- Um caso de mania refractária ao tratamentoPublication . Ponte, G; Paiva, A; Lobo, MA mania disfórica é um estado que ocorre mais frequentemente em mulheres e é caracterizada por enorme irritabilidade. O tratamento de primeira linha da mania aguda é feito com lítio; já nos quadros de mania atípica ou refractária, está indicada a clozapina. A resposta à terapêutica farmacológica varia mediante certas particularidades do paciente, nomeadamente se se trata de um metabolizador rápido ou lento. Na ausência de resposta à medicação, está indicado o uso de electroconvulsoterapia. É descrito um caso de uma mulher de 30 anos, com mania refractária ao tratamento farmacológico convencional e electroconvulsoterapia. A remissão foi conseguida mediante a administração de 1400 mg de clozapina diários.
- EditorialPublication . Cardoso, G
- Heranças familiares: transfusão ou transformaçãoPublication . Pinheiro, CNo presente artigo é reflectido o tema das heranças familiares numa perspectiva psicanalítica. São destacados conceitos de três autores: a transmissão psíquica (R. Kaes), a telescopagem de gerações (H. Faimberg), e o objecto transgeracional (A. Eiguer). São interrogadas perspectivas clínicas sobre a filiação, nomeadamente aquelas que resultam de uma prática com a instituição, o indivíduo, a família e o grupo.
- Tratamento de dependências – perspectivas clínica e jurídica: breve reflexão a propósito de dois casos clínicosPublication . Fonseca, S; Morins, M; Fraga, M; Pereira, JO consumo de substâncias psicoactivas, conhecidas vulgarmente por drogas, incluindo o consumo de álcool, de modo esporádico ou crónico, está directamente relacionado com alterações na conduta do consumidor e pode espoletar estados psicopatológicos de evolução subaguda ou crónica. O consumo excessivo de álcool ou consumo de substâncias ilícitas por indivíduos sem doença mental, são actos praticados de livre vontade, o que os torna criminalmente responsáveis pelos seus actos, mesmo quando optam voluntariamente por um estado de intoxicação e durante esse estado praticam uma acção criminosa. Da prática clínica reconhece-se que qualquer tipo de tratamento em doentes que sofram destas patologias só é eficaz quando o doente a ele adere voluntariamente e o internamento compulsivo apenas é desencadeado quando o quadro psicopatológico associado justifica os pressupostos do artigo 12.º da Lei de Saúde Mental. Por outro lado, se o tratamento compulsivo tiver um carácter de imposição judicial, o indivíduo é obrigado a tratar-se, independentemente de ser portador ou não de doença mental. A propósito de 2 casos clínicos, um de toxicodependência e um de alcoolismo, as autoras reflectem sobre as perspectivas, clínica e jurídica, relacionadas com o tratamento destas entidades clínicas.
- Um caso de mania crónica numa doente com diagnóstico duplo de doença bipolar tipo I e perturbação delirantePublication . Martins, M; Gracias, MJ; Melo, JOs autores descrevem o caso de uma doente de 62 anos, sem antecedentes psiquiátricos pessoais ou familiares até aos 52 anos, altura em que inicia ideias delirantes de conteúdo somático e hipocondríaco em que acredita ter ficado doente com um “problema na cabeça” após um pequeno traumatismo no local de trabalho. É internada pela primeira vez dois anos depois do referido traumatismo com o diagnóstico de perturbação delirante tipo somático, tendo tido alta com o delírio enquistado e sem crítica para o estado patológico. Inicia acompanhamento em consulta externa de psiquiatria, com má adesão terapêutica em ambulatório, com novo internamento cerca de 1 ano depois, por agravamento das ideias delirantes somáticas e hipocondríacas. Cerca de 3 anos depois, começa a manifestar sintomas maniformes de gravidade crescente (ideias sobrevalorizadas de grandiosidade, aumento da energia, taquipsiquia, aumento do débito do discurso, desinibição, elação de humor e redução da necessidade de sono); posteriormente o quadro agrava-se com o aparecimento de ideias delirantes persecutórias e alucinações auditivo-verbais, situação que motiva novo internamento, com um episódio maníaco franco. É feito o diagnóstico duplo de perturbação delirante e perturbação bipolar tipo I, numa doente com funcionamento pré-mórbido hipertímico. Desde então e durante cerca de 4 anos mantém-se com quadro clínico relativamente estável caracterizado por humor tendencialmente elevado, ideias de grandiosidade, discurso prolixo e de débito aumentado, aspecto externo por vezes excêntrico e sem crítica para o estado patológico. Os autores discutem a evolução e as implicações clínicas de uma forma particular e relativamente pouco frequente da doença bipolar, a mania crónica.